quarta-feira, 2 de outubro de 2019

No falso relógio da demora

[02:04]
[O vento raja lá fora. Faz frio, lá fora e aqui dentro, bem dentro.]
[Me sinto tranquila, dopada por alta dose de sono, e imersa em fluidez fruto da contemplação de coisas que já nem sei se existem]

A luz solar dos teus olhos líquidos
chega-me suave e suada
pela vidraça da fortaleza
e a tua voz, que é música,
se erguendo no ar,
salgada e nua sinto-te no litoral da língua,
e nenhuma garça agarrada ao estendal do vento me ensina o poema.
Sou agora a música, o poema,
a garça sem graça,
no falso relógio da demora.
     
                                         -Sangare Okapi, do livro ´´Mesmos barcos ou poemas de revisitação do corpo´´


No falso relógio da demora,
Cada pétala minha pisada,
Porque tive que ir embora,
Se é contigo minha morada?
O relógio é falso porque inexiste
A dimensão temporal bate em vão.
Quando o amor existe, insiste
Não há temporalidade num coração.
Impor a um querer sedento
que espere até o dia raiar
É ordená-lo que durma ao relento
Sem poder livre despertar
E eu então durmo aqui debruçada,
No falso relógio da demora.
Me agarrando ao que resta-
Apenas memória.






2 comentários:

  1. Caraca! Eu não tinha entendido porque é falso, mas adorei tua explicação/poema... Alias sabia que uma das coisas que mais me deixam apaixonado são teus escritos?
    Nossa e essa imagem de vc debruçada me deixou mal...

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  2. Fica difícil escrever aqui diante dos teus poemas...

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