terça-feira, 22 de outubro de 2019

Sedaduas

[O que é o tempo?]

Oi!
Oi meu amor!
Faz tempo que não escrevo por aqui, e agora sinto saudades tanto de você quanto daqui. Mas a daqui é fácil de matar, é só abrir o computador e escrever ou ler algo nessa coisa querida que criamos e que suspeito que nem exista no mundo real. Já a saudade de você, tenho que pegar um avião pra matar. Enquanto não o faço, ela própria é quem me mata lenta e tortuosamente, e simultaneamente quem me faz reviver magicamente em universos paralelos e variados. 

De fato sinto saudades de você.
Sinto.
Sinto com todo meu corpo, com todo o meu pensamento, e até mesmo com toda a minha alma. 
Sinto no peito, nas mãos, nos lábios, na pulsação.
Sinto nas noites em que não tenho quem abraçar,
nas manhãs que desperto para o lado e me deparo com o nada.

É interessante experienciar quantas dimensões e tons diferentes a minha saudade pode adquirir. Nunca me entendio, porque a saudade que sinto de você sempre se reveste de nova cor e vem bater à minha porta vestida de novo traje, diferente do que era ontem, diferente do que fora a um minuto atrás. E assim ela me mantém entretida, até que você, na sua tridimensionalidade, possa me entreter como eu venho sonhando todas as noites. 

A saudade...
Às vezes ela vem de fininho quando eu menos percebo, e quando vou ver, já se instalou dentro de mim e se apossou do meu ser, sem pedir permissão para me adentrar.
Às vezes ela chega invadindo, sem nem tentar se disfarçar, e me carrega pra dentro dela até eu não poder mais chorar.

A saudade...
Me prende, me sufoca.
Me liberta, me alivia o peso da solidão.
Me faz companhia, é minha melhor amiga,
Me faz me sentir sozinha nessa imensidão.

A saudade...
Às vezes safada, me inflama pra dentro dos seus beijos longos e demorados, roçando nossos corpos molhados e quentes.
Às vezes carinhosa, me carrega pra dentro do seu abraço apertado, onde sinto ter encontrado terra seca depois de um navegar sofrido. 
Às vezes cruel, me obriga a chorar lágrimas azuis de tristeza, me afogando num infinito mar azul.
Às vezes companheira, passeia comigo por onde eu vou, escreve versos comigo, lê livros comigo, assiste os filmes que assisto, pensa, sorri, come, tudo comigo, e no cair da noite, se enrola em volta de mim até adormecermos juntas e nos entregarmos para mais uma noite fria.

A saudade...
Me consome, como fogo que arde sem se ver.
Me engole, me mastiga, me cospe.
Me traz leveza, me inunda numa nuvem branca de paz densamente leve.
Me permite ser, estar e sonhar.

A saudade...
Me leva pra mundos distantes, ilhas imaginárias de amor, braços abertos a me encontrar.
Me lança pra dentro de si mesma, me gira como num redemoinho, do qual não sei escapar. 
Me carrega no colo, me faz confessar, que não tem mais jeito de dissimular.
Me taca num beco escuro e vazio, longe de qualquer possível luar. 

A saudade desperta comigo com todo nascer solar, 
E dorme embalada no meu corpo com todo nascer lunar. 
Em todos os meus versos, em todos os meus passos,
Em todos os meus humores, em todos os meus retratos,
Ela encontra uma maneira de se infiltrar, e ficar.

E ficar...

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Como minhas palavras hoje não conseguem expressar a magnitude daquilo que sinto, te deixo com algumas poesias de pessoas que traduzem em linguagem clara a turbulência ilegível do meu coração.
Principalmente esse da Clarice Lispector descreve muito o que eu sinto e me dá muito alívio o fato de ela ter conseguido transcrever esses sentimentos intensos em palavras precisas.

Sentimento urgente – Clarice Lispector

Saudade é um pouco como fome
Só passa quando se come a presença
Mas, às vezes, a saudade é tão profunda que a presença é pouco
Quer-se absorver a outra pessoa toda
Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira
É um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.



Chega de saudade – Vinicius de Moraes

Vai minha tristeza
E diz a ele que sem ele não pode ser.
Diz-lhe numa prece
Que ele regresse
Porque não posso mais sofrer.
Chega de saudade
A realidade é que sem ele
Não há paz.
Não há beleza,
É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim.
Não sai de mim,
Não sai.
Mas, se ele voltar
Se ele voltar, que coisa linda!
Que coisa louca!
Pois há menos peixinhos a nadar no mar
Do que os beijinhos
Que eu darei na sua boca.
Dentro dos meus braços, os abraços
Hão de ser milhões de abraços.
Apertado assim, colado assim, calada assim,
Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim
Que é pra acabar com esse negócio
De viver longe de mim.
Não quero mais esse negócio
De você viver assim.
Vamos deixar esse negócio
De você viver sem mim…

(nessa música modifiquei de ´ela´ pra ´ele´ porque você é meu leitor)










Um comentário:

  1. Primeiramente! O oi está com maiúscula!! Quebrando paradigmas hein menina

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