quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Sucá do Rebe

No dia de yom tov o Korich quis ir para o minian chabad. Tem livros, perguntei, deve ter, respondeu. Chegando lá saí catando livros, só livros chabad, não entendo nada, não tenho o que ler.
Peguei um livro de sichot do Rebe e encarei o desafio. Algo de sucot.

A sichá era de 1979. Em idiche traduzida pra hebraico. Vamos ao pouco que entendi de lá dentro.

Está escrito "e nas sucot vocês vão sentar". Mas sucá é bechinat mekif e sentar é bechinat pnimit! Essa era a primeira pergunta. Não entendi. Li e reli, pensei e despensei: mekif (em português "envolve") é algo de fora, algo que vem pra gente do ambiente externo, entrar na sucá não é algo interno, existe algo que vem de fora, no ar da sucá, assim como o shabat, existe algo na natureza do dia, asseret yemei tshuva a tshuva funciona mais do que em outros dias porque nem tudo vem dentro. Pnimit seria algo que vem de dentro. Depois o Rebe fala que sentar é algo que vem de dentro da gente, algo que entendemos ou sentimos, tshuvá de dentro, receber o shabat antes, etc... Ele traduz os dois termos para conceitos intelectuais: mekif é emuná e pnimit é entender as coisas. A sucá seria mekif ou pnimit? Emuná ou sechel (intelecto)?

Percebi também que as sichot dele tem uma configuração interessante: ele nos afoga com perguntas e responde tudo no fim com uma idéia só.
Segunda pergunta: Sucá tem o conceito de paz bem forte, haviam os 70 korbanot em nome dos 70 povos, temos o termo sukat shelomecha, sucá era pra todo mundo sentar junto. Por quê? Por que justo em sucot? O que tem de especial em sucot pra comparar com paz?
Teceira pergunta: Qual a relação de lulav com sucot? Eles foram ordenados no mesmo dia por quê? A torá não conecta os dois claramente mas existem dinim que conectam os dois, por exemplo, a brachá de lulav deve ser feita na sucá.

Tem mais umas perguntas mas vou direto à idéia...

Você entra na sucá como mekif, algo que você entra dentro e absorve o ambiente, a sucá vem como emuná, você entra lá sem entender nada, depois a sucá te permite entender as coisas a fundo, intelectualmente.
Por quê? A sucá junta todo mundo sob o mesmo teto, ela representa paz, paz traz verdade.
Como? Juntando opostos, juntando contradições, as 4 espécies, que representam tipos diferentes de pessoas, são colocadas juntas e a gente chacoalha elas! Vamos chacoalhar e ver o que sai. A sucá tem a capacidade de colocar vários opostos no mesmo liquidificador e como resultado ela libera a verdade. As coisas ficam claras depois de juntarmos todas as diferenças. A paz traz a verdade.

A paz traz a verdade ou a verdade traz a paz. Tanto faz?

O Rav Kook em Olat reia, seu pirush do sidur, na parte de "talmidei chachamim marbim shalom baolam" fala sobre esse conceito. Ele diz que a princípio pensaríamos que a verdade e a paz são conceitos opostos, porque afinal, se eu defender a minha verdade até o final eu não vou ter paz com o meu oponente. Mas não! A verdade só vem quando a gente pega variás ideias contraditórias e cada uma reflete seu lado da verdade. Por isso os chachamim trazem a paz, porque eles mostram como cada um traz seu lado da verdade, cada um está com a verdade parcialmente. Ir atrás da verdade traz paz e sabe o quê? A paz traz a verdade tambem.

Um parentesis sobre a idéia do Rav kook:

O professor de filosofia no Bar Ilan Avi Sagi, escreve um livro chamado elu veelu, em nome da famosa fala de chazal "elu veelu divrei elohim chaim" (quem tá certo beit shamai ou beit hilel? Deus responde que elu veelu), esse livro analisa o conceito de pluralismo no judaísmo, ele divide as opiniões do judaísmo em 3: A monista, a harmônica e a pluralista. A monista é dizer que só tem uma verdade e o resto tá errado, elu veelu simplesmente quer dizer que eu tenho que tolerar o outro mas ele tá errado. defensores da monista são em geral os rishonim: rambam, ritba, etc. A pluralista é dizer que todas estão certas na mesma medida, nenhuma está errada. A harmônica diz que cada um está certo em parte e errado em parte, cada um reflete uma parte diferente da verdade, em uma intensidade diferente. A verdade é um sofisticado prisma refletindo em várias cores e de vários ângulos. Nesse grupo o prof Avi Sagi coloca o Rav Kook, o Maharal, etc.

A princípio o Rebe parece fazer parte do grupo da verdade harmônica. E a sucá é um catalisador dessa verdade.

4 comentários:

  1. ''Tem livros, perguntei, deve ter, respondeu.''
    Adorei!

    ResponderExcluir
  2. ´´ele nos afoga com perguntas e responde tudo no fim com uma idéia só.´´
    Isso me lembrou de quando estávamos agora na Sucá do Guarujá e o Dani tava dando um dvar tora a meu pedido, e ele lançou 7 perguntas e no fim respondeu a todas com uma só resposta.. Pra ser sincera aquela resposta não me deu por convencida mas ok haha estávamos com fome então não fiquei debatendo com ele

    ResponderExcluir
  3. ´´Por quê? A sucá junta todo mundo sob o mesmo teto, ela representa paz, paz traz verdade.
    Como? Juntando opostos, juntando contradições, as 4 espécies, que representam tipos diferentes de pessoas, são colocadas juntas e a gente chacoalha elas! Vamos chacoalhar e ver o que sai. A sucá tem a capacidade de colocar vários opostos no mesmo liquidificador e como resultado ela libera a verdade. As coisas ficam claras depois de juntarmos todas as diferenças. A paz traz a verdade.´´

    Que lindo! Adorei a parte do vamos chacoalhar e ver o que sai

    ResponderExcluir
  4. ´´Chegando lá saí catando livros´´
    Conheço essa sensação hahahahaha amo e te amo por isso e por mais tantas coisas

    ResponderExcluir