sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Minhas anotações baseadas na palestra sobre suicídio

[Não se sinta na obrigação de ler ou responder, sei que tá longo e talvez não te interesse muito, mas quis compartilhar!]

Luto por suicídio e a clínica com pacientes com ideação suicida

  • Prof. Dr. Marcelo Sodelli, fenomenólogo hermenêutico, docente do curso de Psicologia da PUC-SP (pesquisador no campo de Suicídio).
  • Profª Drª Maria Helena Franco, Professora Titular da PUC no Programa de Estudos Pós-graduados em Psicologia Clinica e fundadora do Laboratório de Estudos e Intervenções sobre o Luto – LELu, da PUCSP.
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  • O suicídio como fenômeno irreversível
  • Necessidade de compreender o suicídio inserido num contexto de mundo pós-moderno.
  • O que nós sabemos sobre o suicídio?
    • Só o antes, e não o fenômeno em si.
    • Não sabemos o que é a morte em si, só podemos saber o que é a vida.
      • Visão de Heidegger sobre a morte
  • Perguntas que o paciente pode fazer dentro do espaço clínico:
    1. Qual é o sentido da vida?
      • O paciente, ao perguntar isso, de fato espera uma resposta por parte do terapeuta → Causa angústia no terapeuta
    2. Sempre é possível superar um sofrimento?
  • 3 dimensões para entender como se dá o fenômeno do suicídio
    1. O mundo
    2. O eu
    3. O outro
  • Diferentes visões acerca do suicídio, dependendo da época e contexto → Mostra que nem sempre o suicídio é visto como algo ruim e errado
    • Grécia antiga: Suicídio como ato de honra e demonstração de coragem, um privilégio do homem
    • Hoje em dia: Suicídio como fuga (alguém tentando fugir de seus problemas), ato de covardia, visto como patologia
  • Nietzsche: ´´Deus está morto´´ (A Gaia Ciência, 1882)
    • Essa frase condensa o espírito da época: distanciamento da religião, niilismo 
      • Perigo do niilismo: A morte de Deus deveria trazer uma liberdade nunca antes vista, mas estamos perdidos, não sabemos para onde ir e nem o que fazer com isso. → A falta de um referencial externo traz desespero → o homem procurará novos deuses = razão, humanismo, ciência, leis.
      • A fé virou razão, a dona da verdade é a Ciência, nossa nova religião é o progresso do homem. 
    • Ao realizar esse statement, mostra-se uma mudança de paradigma.
      • Agora, temos um novo Deus, que não está ligado ao sagrado, mas sim à ciência. Usamos a ciência para preencher o espaço que antes Deus e os valores transcendentais preenchiam.
        • A ciência tenta entender e explicar os fenômenos, para alcançarmos um controle e domínio sobre tais fenômenos. 
          • Como dominar o fenômeno do suicídio?
        • A ciência hoje casou com o capitalismo, buscando o capital.
          • Só áreas que dão retorno ganham investimento. 
            • Ex. A área da tecnologia 

  • Hoje, o mundo é movido pela tecnologia e pela técnica.
    • A experiência foi substituída pelo experimento.  
    • A sociedade de hoje é movida pela técnica, pelo desempenho, pela performance.
    • Perdemos a possibilidade da intimidade.
      • Facebook, instagram: publicamos a intimidade, pois publicar o que é público não tem graça, não rende likes. 
    • Não precisamos mais de chefes, nós somos nossos próprios chefes, nós mesmos mandamos na gente. 
  • Mundo virtual
    • Infinito, ilimitado
      • Ilusão de que a vida não acaba, de que não há resistência para a vida
    • Quem se torna usuário do mundo virtual também vai se tornando infinito, imortal. 
      • Suicídio interrompe a atemporalidade, indica que algo não está funcionando. É visto como patologia.

  • É difícil lidar com o suicídio, porque é um fenômeno que nos escapa 
    • Não é captado/detectado por escalas e questionários. 
  • O suicídio não tem uma causa, é um acontecimento.
  • Estatística: 90% dos suicídios são ligados a alguma patologia.
  • Depressão ≠ Tristeza ≠ Melancolia
  • Será que todo mundo que pensa em se matar, está deprimido?
  • Será que toda pessoa que se suicida, tem uma psicopatologia?
  • Será que alguém pode estar tendo um sofrimento psíquico e querer se suicidar sem necessariamente estar doente (ou seja, se suicidar estando em plenitude)?
  • Para dar fim a sofrimento físico
    • Suicídio assistido
      • Geralmente para pessoas que estão tendo um sofrimento físico (dores insuportáveis), um diagnóstico de doença terminal. 
      • A facilitação ao suicídio do paciente, onde o agente, normalmente um parente próximo, põe ao alcance do enfermo terminal alguma droga fatal ou outro meio parecido. → Portanto, o suicídio assistido exige que o paciente esteja totalmente consciente. 
      • Suicídio assistido vs Eutanásia
        • Suicídio assistido: realizado pela própria pessoa
        • Eutanásia: ato deliberado de provocar a morte sem sofrimento do paciente com fins ‘’misericordiosos’’.
      • Legalizado na Holanda, alguns estados dos Estados Unidos, Alemanha e Suíça
        • No Brasil, tanto o suicídio assistido como a eutanásia são proibidos e considerados homicídios, e o praticante pode ser penalizado. 
    • Curiosidade: A eutanásia e o suicídio assistido eram muito praticados na Grécia e Roma antigas. Na cidade de Marselha, existia um depósito público de cicuta (veneno extremamente poderoso) à disposição de todos que querem se suicidar. Em Atenas, o senado tinha o poder absoluto de decidir sobre a eliminação de velhos e incuráveis, dando o conium maculatum- bebida venenosa, em cerimônias especiais. 
  • Alguém que pensa em suicídio, que traz esse tema pro espaço clínico, está livre ou não-livre?
  • A tentativa de suicídio pode ser um impulso. E às vezes, esse impulso passa. Mas às vezes não. 
  • O sobrevivente do suicídio é aquele que era próximo, de alguma forma, da pessoa que se suicidou. Por exemplo, a mãe de filho que se suicida é uma sobrevivente do suicídio.
    • A função do psicólogo não é perdoar o sobrevivente do suicídio, dizendo coisas do tipo: ´´Ah, tudo bem, você é uma pessoa bacana…´´. Em vez disso, o psicólogo deve ´´gastar´´ o assunto, conversar sobre, perguntar porque aquele sobrevivente se sente da maneira como se sente (culpado, triste, etc) → ´´Porque você acha que você não é uma boa pessoa?’’
  • Cometer suicídio está completamente relacionado com a sua compreensão de mundo.
    • Nem sempre envolve loucura, surto, impulsividade. 
    • Tem a ver com o sentido. Qual o sentido da minha vida? Qual o sentido do meu suicídio? → E é essa reflexão que pode levar ao suicídio, ou seja, nem sempre é uma motivação patológica. 
    • Porém em geral, a pessoa que se mata de forma serena não é a pessoa que está na clínica, porque essa pessoa tem certeza daquilo, ela está em paz com sua escolha. Tanto que essa morte é aquela que surpreende a todos, porque ninguém esperava que fosse acontecer. 
  • As mulheres tentam mais se matar, mas são os homens quem mais conseguem se matar. Ou seja, quem de fato se mata é mais o homem. → 4 homens para cada uma mulher.
    • Possíveis explicações
      • A mulher, na hora H, pensa mais na sua família (ex. muitas das mulheres em nossa sociedade são mães), enquanto o homem tende a pensar mais em si mesmo.
      • O homem é visto na sociedade como aquele que tem que ser agressivo, bem sucedido, então ele acaba empregando métodos mais violentos e agressivos de se matar, o que acaba tendo ´´sucesso´´. 
  • O psicólogo precisa entender quem é o paciente, quais as falas trazidas por esse paciente.
    • Quero sumir  ≠ Quero ser atropelado  ≠ Já planejei como quero me matar…
  • O Prof. Marcelo, na sua clínica, sempre faz uma espécie de ´´contrato prévio´´ com o paciente, dizendo que ele se dá o direito de avisar a família caso sinta que a vida do paciente está em risco. 
    • Porém, o psicólogo deve ser muito cauteloso nesse aspecto, e saber qual o momento em que a situação está de fato crítica o suficiente para avisar a família. 
    • Se em toda sessão, o psicólogo avisar a família que o paciente está pensando em suicídio, isso terminará a terapia, porque trará angústia para a família e a família irá dizer que não sabe lidar com a situação e que quer internar o membro em alguma instituição. 
  • Clichês ditos sobre o suicídio
    • ´´Quem fala não faz´´
    • ´´Tá tentando chamar atenção´´
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Se quiser entender um pouquinho mais da psicologia fenomenológica, a partir do ponto de vista do Marcello Sodelli que deu essa palestra, esses vídeos são bacanas!! Eu escreveria mais sobre o que eu penso de cada um desses vídeos/pontos que eu acho interessante sobre cada um deles, mas talvez é algo que não ''cabe'' no blog... Se você tiver interesse, me avisa e vou ficar feliz em compartilhar aqui no blog! Se não, eu deixo no meu diário mesmo haha 

https://www.youtube.com/watch?v=OBFl-KNcmHQ: O que é uma terapia de fato terapêutica?
https://www.youtube.com/watch?v=lc8xFy5ek8w: A temporalidade do terapeuta


5 comentários:

  1. Vou comentando conforme vou lendo...
    Discordo que o deus de hoje seja a ciência, isso era verdade no final do século 19, na era do modernismo, o pós modernismo quebra a verdade e tira o absolutismo da ciência. Acho que o racionalismo de hoje em dia é bem menor do que de um século atrás, tanto é que temos cada vez mais gente questionando a ciência (negacionistas do aquecimento global, terraplanista, os "fake news", isso é tudo fruto do pós modernismo).
    Além de que a religião aumentou (tanto a institucionalizada quanto a não institucionalizada), as espiritualidades orientais, os new age, tudo isso são fenomenos da pós modernidade...
    Pelo menos é isso que eu sempre aprendi e li, na época de nietzche aí sim faz sentido falar que deus era a ciência.

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  2. "O suicídio não tem causa, é um acontecimento"
    Por quê?

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  3. Sobre os homens mulheres... Não gostei do que ele falou que os homens se matam mais porque eles tem mais pressão sobre eles. Se as mulheres se matassem mais poderíamos dar a mesma (exatamente a mesma!) explicação.

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  4. Quero que vc compartilhe mais sim!! Vou ver os vídeos

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  5. Mano esse prof do filme fala mto bem com a camera hein, ele podia ter um vlog

    Zueira. Mas enfim, tava vendo esse do espaço terapêutico, achei meio dificil prestar atenção nele mas entendi. Pra te falar a verdade achei que ele não fala muita coisa... E o que ele fala ele diz de maneira superficial. Não vi o outro vídeo ainda, pelo título parece mais legal.

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