[Não se sinta na obrigação de ler ou responder, sei que tá longo e talvez não te interesse muito, mas quis compartilhar!]
Luto por suicídio e a clínica com pacientes com ideação suicida
Luto por suicídio e a clínica com pacientes com ideação suicida
- Prof.
Dr. Marcelo Sodelli, fenomenólogo hermenêutico, docente do curso de
Psicologia da PUC-SP (pesquisador no campo de Suicídio).
- Profª
Drª Maria Helena Franco, Professora Titular da PUC no Programa de Estudos
Pós-graduados em Psicologia Clinica e fundadora do Laboratório de Estudos
e Intervenções sobre o Luto – LELu, da PUCSP.
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- O
suicídio como fenômeno irreversível
- Necessidade
de compreender o suicídio inserido num contexto de mundo pós-moderno.
- O
que nós sabemos sobre o suicídio?
- Só
o antes, e não o fenômeno em si.
- Não
sabemos o que é a morte em si, só podemos saber o que é a vida.
- Visão
de Heidegger sobre a morte
- Perguntas
que o paciente pode fazer dentro do espaço clínico:
- Qual
é o sentido da vida?
- O
paciente, ao perguntar isso, de fato espera uma resposta por parte do
terapeuta → Causa angústia no terapeuta
- Sempre
é possível superar um sofrimento?
- 3
dimensões para entender como se dá o fenômeno do suicídio
- O
mundo
- O
eu
- O
outro
- Diferentes
visões acerca do suicídio, dependendo da época e contexto → Mostra que nem
sempre o suicídio é visto como algo ruim e errado
- Grécia
antiga: Suicídio como ato de honra e demonstração de coragem, um
privilégio do homem
- Hoje
em dia: Suicídio como fuga (alguém tentando fugir de seus problemas), ato
de covardia, visto como patologia
- Nietzsche:
´´Deus está morto´´ (A Gaia Ciência, 1882)
- Essa
frase condensa o espírito da época: distanciamento da religião,
niilismo
- Perigo
do niilismo: A morte de Deus deveria trazer uma liberdade nunca antes
vista, mas estamos perdidos, não sabemos para onde ir e nem o que fazer
com isso. → A falta de um referencial externo traz desespero → o homem
procurará novos deuses = razão, humanismo, ciência, leis.
- A
fé virou razão, a dona da verdade é a Ciência, nossa nova religião é o
progresso do homem.
- Ao
realizar esse statement, mostra-se uma mudança de paradigma.
- Agora,
temos um novo Deus, que não está ligado ao sagrado, mas sim à ciência.
Usamos a ciência para preencher o espaço que antes Deus e os valores
transcendentais preenchiam.
- A ciência tenta entender e explicar os
fenômenos, para alcançarmos um controle e domínio sobre tais
fenômenos.
- Como dominar o fenômeno do suicídio?
- A ciência hoje casou com o capitalismo,
buscando o capital.
- Só áreas que dão retorno ganham
investimento.
- Ex. A área da tecnologia
- Hoje,
o mundo é movido pela tecnologia e pela técnica.
- A
experiência foi substituída pelo experimento.
- A
sociedade de hoje é movida pela técnica, pelo desempenho, pela
performance.
- Perdemos
a possibilidade da intimidade.
- Facebook,
instagram: publicamos a intimidade, pois publicar o que é público não
tem graça, não rende likes.
- Não
precisamos mais de chefes, nós somos nossos próprios chefes, nós mesmos
mandamos na gente.
- Mundo
virtual
- Infinito,
ilimitado
- Ilusão
de que a vida não acaba, de que não há resistência para a vida
- Quem
se torna usuário do mundo virtual também vai se tornando infinito,
imortal.
- Suicídio
interrompe a atemporalidade, indica que algo não está funcionando. É
visto como patologia.
- É
difícil lidar com o suicídio, porque é um fenômeno que nos escapa
- Não
é captado/detectado por escalas e questionários.
- O
suicídio não tem uma causa, é um acontecimento.
- Estatística:
90% dos suicídios são ligados a alguma patologia.
- Depressão
≠ Tristeza ≠ Melancolia
- Será
que todo mundo que pensa em se matar, está deprimido?
- Será
que toda pessoa que se suicida, tem uma psicopatologia?
- Será
que alguém pode estar tendo um sofrimento psíquico e querer se suicidar
sem necessariamente estar doente (ou seja, se suicidar estando em
plenitude)?
- Para
dar fim a sofrimento físico
- Suicídio
assistido
- Geralmente
para pessoas que estão tendo um sofrimento físico (dores insuportáveis),
um diagnóstico de doença terminal.
- A
facilitação ao suicídio do paciente, onde o agente, normalmente um
parente próximo, põe ao alcance do enfermo terminal alguma droga fatal
ou outro meio parecido. → Portanto, o suicídio assistido exige que o
paciente esteja totalmente consciente.
- Suicídio
assistido vs Eutanásia
- Suicídio assistido: realizado pela própria
pessoa
- Eutanásia: ato deliberado de provocar a
morte sem sofrimento do paciente com fins ‘’misericordiosos’’.
- Legalizado
na Holanda, alguns estados dos Estados Unidos, Alemanha e Suíça
- No Brasil, tanto o suicídio assistido como
a eutanásia são proibidos e considerados homicídios, e o praticante
pode ser penalizado.
- Curiosidade:
A eutanásia e o suicídio assistido eram muito praticados na Grécia e Roma
antigas. Na cidade de Marselha, existia um depósito público de cicuta
(veneno extremamente poderoso) à disposição de todos que querem se
suicidar. Em Atenas, o senado tinha o poder absoluto de decidir sobre a
eliminação de velhos e incuráveis, dando o conium maculatum- bebida
venenosa, em cerimônias especiais.
- Alguém
que pensa em suicídio, que traz esse tema pro espaço clínico, está livre
ou não-livre?
- A
tentativa de suicídio pode ser um impulso. E às vezes, esse impulso passa.
Mas às vezes não.
- O sobrevivente do suicídio é aquele que era próximo, de alguma forma, da pessoa que se suicidou. Por exemplo, a mãe de filho que se suicida é uma sobrevivente do suicídio.
- A função do psicólogo não é perdoar o sobrevivente do suicídio, dizendo coisas do tipo: ´´Ah, tudo bem, você é uma pessoa bacana…´´. Em vez disso, o psicólogo deve ´´gastar´´ o assunto, conversar sobre, perguntar porque aquele sobrevivente se sente da maneira como se sente (culpado, triste, etc) → ´´Porque você acha que você não é uma boa pessoa?’’
- Cometer
suicídio está completamente relacionado com a sua compreensão de mundo.
- Nem
sempre envolve loucura, surto, impulsividade.
- Tem
a ver com o sentido. Qual o sentido da minha vida? Qual o sentido
do meu suicídio? → E é essa reflexão que pode levar ao suicídio, ou seja,
nem sempre é uma motivação patológica.
- Porém
em geral, a pessoa que se mata de forma serena não é a pessoa que está na
clínica, porque essa pessoa tem certeza daquilo, ela está em paz com sua
escolha. Tanto que essa morte é aquela que surpreende a todos, porque
ninguém esperava que fosse acontecer.
- As
mulheres tentam mais se matar, mas são os homens quem mais
conseguem se matar. Ou seja, quem de fato se mata é mais o homem. → 4
homens para cada uma mulher.
- Possíveis
explicações
- A
mulher, na hora H, pensa mais na sua família (ex. muitas das mulheres em
nossa sociedade são mães), enquanto o homem tende a pensar mais em si
mesmo.
- O
homem é visto na sociedade como aquele que tem que ser agressivo, bem
sucedido, então ele acaba empregando métodos mais violentos e agressivos
de se matar, o que acaba tendo ´´sucesso´´.
- O
psicólogo precisa entender quem é o paciente, quais as falas trazidas por
esse paciente.
- Quero
sumir ≠ Quero ser atropelado ≠ Já planejei como quero me
matar…
- O
Prof. Marcelo, na sua clínica, sempre faz uma espécie de ´´contrato
prévio´´ com o paciente, dizendo que ele se dá o direito de avisar a
família caso sinta que a vida do paciente está em risco.
- Porém,
o psicólogo deve ser muito cauteloso nesse aspecto, e saber qual o
momento em que a situação está de fato crítica o suficiente para avisar a
família.
- Se
em toda sessão, o psicólogo avisar a família que o paciente está pensando
em suicídio, isso terminará a terapia, porque trará angústia para a
família e a família irá dizer que não sabe lidar com a situação e que
quer internar o membro em alguma instituição.
- Clichês
ditos sobre o suicídio
- ´´Quem
fala não faz´´
- ´´Tá tentando chamar atenção´´
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Se quiser entender um pouquinho mais da psicologia fenomenológica, a partir do ponto de vista do Marcello Sodelli que deu essa palestra, esses vídeos são bacanas!! Eu escreveria mais sobre o que eu penso de cada um desses vídeos/pontos que eu acho interessante sobre cada um deles, mas talvez é algo que não ''cabe'' no blog... Se você tiver interesse, me avisa e vou ficar feliz em compartilhar aqui no blog! Se não, eu deixo no meu diário mesmo haha
https://www.youtube.com/watch?v=OBFl-KNcmHQ: O que é uma terapia de fato terapêutica?
https://www.youtube.com/watch?v=lc8xFy5ek8w: A temporalidade do terapeuta
Vou comentando conforme vou lendo...
ResponderExcluirDiscordo que o deus de hoje seja a ciência, isso era verdade no final do século 19, na era do modernismo, o pós modernismo quebra a verdade e tira o absolutismo da ciência. Acho que o racionalismo de hoje em dia é bem menor do que de um século atrás, tanto é que temos cada vez mais gente questionando a ciência (negacionistas do aquecimento global, terraplanista, os "fake news", isso é tudo fruto do pós modernismo).
Além de que a religião aumentou (tanto a institucionalizada quanto a não institucionalizada), as espiritualidades orientais, os new age, tudo isso são fenomenos da pós modernidade...
Pelo menos é isso que eu sempre aprendi e li, na época de nietzche aí sim faz sentido falar que deus era a ciência.
"O suicídio não tem causa, é um acontecimento"
ResponderExcluirPor quê?
Sobre os homens mulheres... Não gostei do que ele falou que os homens se matam mais porque eles tem mais pressão sobre eles. Se as mulheres se matassem mais poderíamos dar a mesma (exatamente a mesma!) explicação.
ResponderExcluirQuero que vc compartilhe mais sim!! Vou ver os vídeos
ResponderExcluirMano esse prof do filme fala mto bem com a camera hein, ele podia ter um vlog
ResponderExcluirZueira. Mas enfim, tava vendo esse do espaço terapêutico, achei meio dificil prestar atenção nele mas entendi. Pra te falar a verdade achei que ele não fala muita coisa... E o que ele fala ele diz de maneira superficial. Não vi o outro vídeo ainda, pelo título parece mais legal.