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[Luz do sol invade meu quarto, colorindo-o de amarelo]
Caminho por São Paulo
E um sentimento de culpa caminha comigo
Tento escutar a beleza urbana,
Mas algo grita mais alto.
Milhões de almas sem abrigo,
Jogadas à sorte do asfalto.
Tens fome e não há quem te alimente
Faz frio e não há quem te aqueça
Queres dormir e não há quem te deite
Choras e não há quem se compadeça
Existes
E não há quem te veja.
Caminho por São Paulo
E um sentimento de culpa caminha comigo
Eu te vejo.
Mas não te alimento, aqueço, deito ou me compadeço.
Eu o poderia fazer.
Eu já o fiz no passado, pelo menos parcialmente.
Mas ainda que o fizesse diariamente, seguiria meu caminho carregando tal culpa dentro de mim.
Culpa por algo que não causei.
Ou será que causei, indiretamente?
Causaram por mim?
Ou ninguém causou nada e assim é que é a ordem das coisas, e devo somente me conformar e aceitar?
Mas não sou menina que se conforma, que aceita assim tão facilmente.
Por que você, e não eu?
Quem é que dita a sorte das coisas? Será que isso é sorte?
Quem é que determina em que família cada um vai nascer? Em que sonho cada um vai despertar?
Quem é que escolhe quem acorda numa cama almofadada ou num asfalto duro? Quem sequer chega a adormecer?
Tens sede e eu também, mas só eu bebo à vontade.
Tens voz e eu também, mas só a minha escutam.
Tens medo e eu também, mas só eu tenho quem me proteja.
Tens sonhos e eu também, mas só a mim dão oportunidades.
Quem é que decidiu tudo isso?
Quem é?
Deus?
Existes
E não há quem te veja.
Será que Ele te vê?
Olha eu não sei se foi proposital mas o final ficou muito legal. Na primeira vez que eu li eu achei que Deus é o sujeito que "existes, e não há quem te veja". Uau aí fica bem louco!
ResponderExcluirQue demais que vc percebeu! Sabia que vc ia!! Amo :) pena q não dá p mandar coração por aqui
Excluirentao, se vc reparar, a primeira vez que aparece essa frase ´´existes, e não há quem te veja´´ é lá em cima, no que seria a terceira estrofe, e lá tá se referindo às pessoas que moram na rua e/ou em estado de pobreza.. Elas existem, mas ninguém as vê (ou fingem que não veem). E lá pra baixo, volto a colocar essa frase, mas dessa vez é depois de mencionar Deus.. E aí rola esse jogo de sentidos! A verdade é que quando coloquei a frase pela segunda vez, na minha cabeça eu ainda tava me referindo à população pobre, mas no mesmo segundo parei e falei: ei, é Deus!
e adorei que esse jogo de sentido se deu de forma totalmente acidental! e por isso que amo tanto poesia e escrever! a gente vai descobrindo coisas enquanto escreve..!!
aí pensei em adicionar algo depois elaborando sobre como os meninos e meninas de rua se assemelham a Deus/sao os mais próximos de Deus etc.. mas aí fiquei com preguiça de expandir haha
mas enfim, dito que a segunda aparição da frase pode ser encarada tanto como referente a Deus ou às pessoas pobres, a frase seguinte ´´Será que Ele te vê?''adquire também duplo sentido. Qual vc acha que é?
Siim é muito louco! A gente vai percebendo enquanto escreve mesmo... E acho que é legal que vc não elaborou justo. Eu acredito que na escrita e na arte em geral é sempre melhor só jogar a semente de uma ideia e aí cada um leva pra onde quiser. A semente da ideia é muito mais forte do que qualquer consequência dela, eu acho que tá mais próxima da verdade, sei lá.
ExcluirSobre a última linha, quando eu li, achei que quebrava o sentido que eu tinha entendido anteriormente. Tipo achei que vc tava falando das pessoas de novo. Mas agora pensando acho que é será que ele te vê, poderiam ser duas pessoas: o pedinte e o passante, é isso?
Mas tenso.. E essa foto daonde é?
ResponderExcluiré bem tenso! e é exatamente isso que sinto enquanto ando por sao paulo, de verdade.. é uma culpa que chega e não consigo me desvencilhar dela.
Excluire obviamente muitos outros sentimentos fora a culpa, mas não dava pra incluir tudo no texto
raiva
confusão
incompreensão
mistério
impotência
A foto é do mestre google mesmo hahahahah queria poder te dizer uma fonte mais nobre mas no momento é o google hahaha
Siim sei, é bem tenso mesmo, eu moro do lado do minhocão lá então é bem triste
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