segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

Ainda escrevendo...

22.27
22.12.19

[O que é a hora e o que é o dia? Não me importa. Aliás, por mera coincidência, isso tem a ver com o poema abaixo]

Estou com uma vontade enorme de escrever, escrever e escrever. De te contar várias, tá, algumas, coisas. De te contar alguns pensamentos, alguns sentimentos. Algumas nuvens que passam pelo meu céu mental. 
Mas para a surpresa de todos... I am emotionally mute. Vi essa expressão ontem num site e de cara me identifiquei e a adotei pra mim. 
Nesses momentos, em que desesperadamente quero pousar mas as minhas asas insistem em voar, ou em que desesperadamente quero alçar voo mas minhas asas insistem em não bater, recorro ao mundo da poesia como último recurso. Pelo menos tenho a certeza que lá encontrarei as palavras que não encontrei dentro de mim. Ou que sim encontrei, mas não consegui externalizar, verbalizar. 
Pois bem, me resta apenas compartilhar com você o poema no qual abri, aleatoriamente, o livro do Álvaro de Campos. 
Se chama ´passagem das horas´ - Irônico não? Pra menina que não tem nenhum conflito com o conceito de tempo, e que ontem nem escreveu no seu diário usando exatamente o termo ´passagem´ para se referir ao tempo...

21.12.19
 I am a bit lost regarding the passage of time and regarding the passage of my life in general. Things seem to be just occuring and I have no say and no control - I don't like the word control and I realized that the best is to really let go of control. By doing so, we don't suffer as much, as we see our lives moving forwards in a fast pace. It feels like my life is an ever-flowing river, it just keeps on going and its waters keep on moving forwards and never stop- and I don't have an option but flow with it. There is no way to stop it. Ok! I am ok with that.
Aqui vai o poema:
PASSAGEM DAS HORAS

Nada me prende, a nada me ligo, a nada pertenço.
Todas as sensações me tomam e nenhuma fica.
Sou mais variado que uma multidão de acaso,
Sou mais diverso que o universo espontâneo,
Todas as épocas me pertencem um momento,
Todas as almas um momento tiveram seu lugar em mim.
Fluido de intuições, rio de supor-mas,
Sempre ondas sucessivas,
Sempre o mar — agora desconhecendo-se
Sempre separando-se de mim, indefinidamente.

Ó cais onde eu embarque definitivamente para a Verdade,
Ó barco com capitão e marinheiros, visível no símbolo,
Ó águas plácidas, como as de um rio que há, no crepúsculo
Em que me sonho possível —
Onde estais que seja um lugar, quando sois que seja uma hora?
Quero partir e encontrar-me,
Quero voltar a saber de onde,
Como quem volta ao lar, como quem torna a ser social,
Como quem ainda é amado na aldeia antiga,
Como quem roça pela infância morta em cada pedra de muro,
E vê abertos em frente os eternos campos de outrora
E a saudade como uma canção de mãe a embalar flutua
Na tragédia de já ser passado,
Ó terras ao sul, conterrâneas, locais e vizinhas!
Ó linha dos horizontes, parada nos meus olhos,
Que tumulto de vento próximo me é ainda distante,
E como oscilas no que eu vejo, de aqui!

Merda p'rá vida!
Ter profissão pesa aos ombros como um fardo pago,
Ter deveres estagna,
Ter moral apaga,
Ter a revolta contra deveres e a revolta contra a moral,
Vive na rua sem siso.

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